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Crítica:
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O Agente Secreto
O que define um filme ser bom? São as suas ideologias? Sua “mensagem subliminar” por trás das atuações? Boas atuações? Um roteiro apresentável? Uma produção impecável? A seleção de elenco deve ser precisa? Deve existir uma boa virada, no qual chamamos de “Plot-Twist”? E a resposta para isso é: Depende. Porque a escolha de elenco pode até ser ruim, mas se o roteiro compensar, pode funcionar. O roteiro pode ser mediano ou até raso, mas quando um ator combina com o papel ele pode se sobressair desse erro. As atuações podem até deixar a desejar, mas se o roteiro for “genial”, as pessoas nem irão sentir falta disso naquele filme determinado.
No caso de “O agente secreto” temos um problema de ideologia (em minha concepção de pressupostos), mas todos os outros elementos são compensadores neste novo longa-metragem. É engraçado isso...Mesmo com erros, o filme ainda não deixa de ser perfeito.
Por que o longa apresenta problemas ideológicos? Porque, ao meu ver, seus roteiristas e diretores não estão pareados comigo quanto a sua visão de sociedade e política. Mas essa é a questão do cinema: Tal divergência ideológica entre os roteiristas e eu não conta na hora de uma crítica cinematográfica. Porque por mais que o material queira lhe “doutrinar” se ele conseguir, ou lhe passar uma história de forma maestral, ele alcançou tal feito, ou até nem tenha conseguido, mas lhe convenceu de que essa é uma história para reflexão e de que seus acontecimentos são plausíveis e justificáveis. Os personagens têm motivos de tomarem as decisões que tomaram, dentro da realidade do filme. Se isso for alcançado, mesmo com princípios e ideologias divergentes, quanto a uma análise técnica de um filme, ele cumpre o seu papel. Por exemplo, imagine uma palestra onde você não concorda com nada do que está sendo explanado, mas o palestrante apresenta tal conteúdo de forma muito bem embasada e com recursos ‘prá lá’ de interessantes. Mesmo que tenhamos um ponto contrário sobre cada questão levantada na palestra, precisamos reconhecer o trabalho do seu palestrante. Ele errou, mas errou muito bem embasado.
Tirando o “Elefante da sala”: O filme é politicamente esquerdista. Mesmo tentando se camuflar como algo imparcial, a ideologia Marxista não consegue se esconder: Por que a corrupta é sempre a polícia? Por que o matador tem que ser um ex-militar? Por que o “machista escroto” tem que ser o empresário? Isso são críticas claras a toda forma de autoridade que encontramos em nosso país. Principalmente no contexto de 1977, com o Regime Militar. Tais artifícios questionam a nossa cosmovisão, fazendo com que sutilmente escolhamos um lado, pelo apego aos personagens, o roteiro nos empurra a ficarmos do lado deles. O cinema também é um grande palco para doutrinação, mas como crítico qual nota eu devo direcionar para um filme que faz isso da melhor forma possível? Talvez essa seja a crítica mais difícil que eu já tenha feito. Estou dividido entre o crítico técnico e o crítico conservador. Quem deve falar mais alto?
Não posso terminar esse texto sem mencionar a grande homenagem que o longa faz a minha cidade de origem: Recife. O local é o cenário de toda a trama, se passando em 1977. Toda a ambientação do longa também é muito bem trabalhada. ‘Kleber Mendonça Filho’ declara todo o seu amor a sua cidade e ao ‘Cinema São Luiz’, quando o coloca como palco de uma das cenas mais importantes do filme. Sua narrativa sobre as lendas urbanas também dão um “toque especial” na trama. Saber que esse longa (no qual já foi escolhido como o nosso representante para Oscar) irá correr o mundo em praticamente todos os países, e com isso as pessoas irão conhecer Recife, para mim é uma honra e privilégio. Ainda existem coisas que apenas o cinema é capaz de fazer. Neste tema eu preciso me curvar ao brilhantismo do nosso nativo diretor.
Joinhas:
5
Por:
@eduardomontarroyos