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Crítica:
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Ainda Estou Aqui
Walter Salles retorna ao cinema nacional em um dos trabalhos mais marcantes de sua carreira. “Ainda estou aqui” já pode ser considerado uma das produções nacionais de grande destaque, ao lado dos icônicos “Central do Brasil”, “Cidade de Deus”, “Tropa de Elite 2” e “O Auto da Compadecida”. Temos um trabalho que adaptada respeitosamente o livro de ‘Marcelo Rubens Paiva’.
Não podemos negar o lado “politizado” da coisa. É claro, isso não é novidade, não é apenas Hollywood que faz questão de contar histórias onde a “Esquerda” é o lado bom de toda a trama. O Brasil faz muito isso, e de forma bem “escancarada”. Se os seus maiores patrocinadores são políticos de esquerda, e a liberação de ‘verba’ é bem maior nas eras de seus governos, não tem sentido contar boas histórias de viés conservador. Naturalmente os vilões são os conservadores. E no caso dessa obra são os militares e quem estiver apoiando-os. Entretanto, não tem como ficar do lado dos militares nesta obra em específico, nem em quem estão apoiando eles. Se os conservadores soubessem tão bem, e tivessem criatividade de contarem boas histórias e fossem patrocinados para isso, realmente a “esquerda” estaria perdida. Mas em “Ainda estou aqui” temos o lado mais “podre” do Regime Militar”: O desaparecimento de vários brasileiros, sem nenhum direito a julgamento.
A casa da família ‘Paiva’ também é um personagem. Ela é a grande fortaleza daquela família. É como se nada de ruim pudesse acontecer dentro daquele ambiente “mágico”, ao mesmo tempo Salles trabalha com a pressão do contexto histórico. Em pleno governo ‘Médici’ ficamos tensos e ao mesmo tempo desconfortáveis quando essa “grande fortaleza” é ‘invadida’ por homens gentis aparentemente educados, mostrando o quanto o mal pode ser racional é muito bem arquitetado. Não são “orcs” nem “bruxos das trevas” ou “Siths”, quem invadem e transformam a vida daquelas pessoas são pessoas educadas e bem vestidas. Não há a mínima possibilidade de negociação com essas pessoas, elas já estão presas em suas convicções e acham que estão corretos.
“Ainda estou aqui” nos lembra de forma maestral sobre a dura realidade de nos afastarmos das pessoas que amamos sem nenhuma opção de escolha. O filme é longo, mas seus dilemas são tão profundos e suas sensações tão bem mostradas em tela que esse tempo passa muito rápido. O filme brasileiro em si trabalha muito com sensações e expressões, coisa que só nós temos e também nos entendemos entre brasileiros, nesse caso vale a pena, de forma proposital, nos apresentar um filme lento onde temos a oportunidade de compartilhar da dor e aflição de um luto bastante mal vivido. Por fim eu menciono o elenco que se encontra simplesmente fenomenal: ‘Selton Mello’ brilha mas ninguém pode deixar de mencionar a impressionante atuação de ‘Fernanda Torres’, no mesmo nível de sua mãe que também aparece, não tem nenhuma fala, mas nos dá uma verdadeira aula de dramaturgia. O Brasil nunca esteve tão perto de levar um Oscar.
Joinhas:
5
Por:
@eduardomontarroyos